quinta-feira, 25 de junho de 2009

Brincando

Na passarela de ligação da PUCRS, na Av. Ipiranga, passam inúmeras pessoas indo e vindo todos os dias, tão absortas em seus pensamentos que nem observam umas às outras. É algo que faz parte da rotina- Graças a Deus - pois se fosse diferente hoje seria possível observar uma cena peculiar. Veriam uma garota toda descabelada, atrasada, cheia de coisas repetindo incansavelmente “Calma, vai dar tudo certo! Tu vai conseguir! Tu vai conseguir!”. Bom, essa garota era EU. Era dia de gravação do Stand Up na cadeira de Laboratório Jornalismo. Ficar em pé com um microfone na mão dizendo um texto decorado enquanto me filmavam, não era exatamente meu programa ideal. Não tem nada relacionado com o fato de que minha memória não foi feita para lembrar instantaneamente das coisas, é que não me sinto bem na frente das câmeras, aquele olho mecânico tem o poder de me deixar extremamente desconfortável. Fico sem saber como agir, onde pôr as mãos ou como me portar, incomodada com aquele aparelho estático que parece me julgar. E nessa conversa comigo mesma fiz meu trajeto diário sem nem perceber. Aterrorizada demais com que estava por vir que mau ouvi quando uma mulher passou por mim dizendo “Coitada, ela é doentinha”, referindo-se ao fato de estar falando sozinha abertamente, como se houvesse alguma pessoa ao meu lado.
Cheguei à sala e ouvi alguém dizer que já iríamos gravar. O medo começou a me dominar, talvez o mantra que vinha repetindo até agora não servia para nada, pensei. Fomos todos para o saguão, onde haveria mais espaço para ser gravado o fiasco da minha vida. As pessoas se posicionaram numa fila por ordem alfabética esperando sua vez. Sendo que na noite anterior numa tentativa de negar meu nervosismo, não tinha escrito minha matéria. “Ainda bem que o meu nome é com jota, tenho tempo ainda!” falei baixinho. Afastei-me e fui escrever, fingindo uma descontração, tentando- em vão- manter a calma. Pronto, como eram apenas 30 segundos não tinha que ser muito extensa. Contemplava a folha de caderno sentado no sofá em frente ao diretório do prédio, quando ouvi o professor chamar meu nome, gelei. Cheguei lá e a menina que vinha antes de mim na chamada já estava acabando, virei-me para o de trás “O que faço mesmo depois que acabar de dizer o texto?” interrompendo a memorização do seu texto ele disse, “Tu assina!” .“Eu assino.”repeti como se fosse óbvio .
Fui lentamente em direção ao objeto que me causava tanto receio, e enquanto me passavam as instruções “segura o microfone assim... te posiciona dessa forma...olha pra lá.” usava todos os segundos para relembrar rapidamente o que ia dizer. O professor de trás da câmera acenou-me, aquilo significava que quando estivesse pronta poderia começar. Sentindo minha mão tremer, segurei o microfone com força e bravamente comecei a falar. Não me lembro o que aconteceu enquanto falava,quando dei por mim estava assinando “Joana Barboza,direto do Saguão da Famecos”. Entreguei o microfone para o próximo e sai sorrindo. Quando me perguntaram como foi, respondi “Bah,super fácil! Dá para fazer brincando!”

Joana Barboza

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